Mafrense na semifinal de Olimpíada de Língua Portuguesa
A aluna do 8º ano do Centro de Educação do Município de Mafra – CEMMA, Briane Luise Pires de Lima conquistou com a redação “O medo do desconhecido” a oportunidade de participar da semifinal das Olimpíadas de Língua Portuguesa “Escrevendo para o Futuro”. Ela participou da etapa estadual, na categoria “Memórias Literárias” e ficou entre as 125 semifinalistas.
O texto foi produzido após oficinas realizadas no segundo bimestre com alunos do sétimo e oitavo anos, pela professora Leriana Martins Moro sobre memórias e histórias, tendo como base a frase de Gabriel Garcia Marques, “A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. Teve por objetivo “fazer com que os jovens conheçam a história do lugar onde vivem por meio do olhar de antigos moradores, pessoas comuns que construíram e constroem a história, valorizando as experiências dos mais velhos, descobrindo-as como parte da sua identidade”. Os alunos fizeram entrevistas com antigos moradores da cidade e elaboraram textos de memória literária. Entre os textos produzidos, uma comissão julgadora escolar escolheu alguns para representar o CEMMA na fase municipal, dentre eles o de Briane Luise Pires de Lima, que conseguiu classificação para a semifinal.
Para que o texto concorra na próxima etapa, é necessário que nossa aluna e professora participem da Oficina Regional, que acontecerá em Maceió/AL, nos dias 3, 4 e 5 de novembro de 2014. A oficina reunirá os 125 professores e 125 alunos semifinalistas de todo o Brasil, na Categoria Memórias Literárias, tendo como objetivo principal ampliar as habilidades para troca de experiências.
Na foto os autores dos textos escolhidos pela escola para a fase municipal. A aluna Briane, classificada na estadual, é a 1ª em pé à direita, ao lado da mochila.
Texto
O medo do desconhecido
Como não lembrar da infância e do lugar onde cresci? Se foi pedacinho de chão que a magia se fez presente nas descobertas que enlevou os meus dias de criança?
Eu, Nelson, pequeno morador do Rio do Cedro, uma localidade da cidade de Mafra, tive o privilégio de ser um menino do campo e aproveitei o que de melhor a natureza ofereceu-me.
Nos dias quentes de verão, nadava nas lagoas que fazíamos com barreiras para conter o rio. Nas tardes de outono, quando o sopro do vento parecia carregar consigo o que tivesse a sua frente, eu menino sonhador, abria os braços e deixava-me levar. Olhos fechados, vento no rosto e o pensamento a voar. No inverno eu deixava durante a noite em cima do palanque da cerca, uma caneca com água adoçada para congelar com a geada e na manhã seguinte deliciava-me com a iguaria. Mas, a estação mais bela a meu ver, era a das flores: os campos verdinhos, flores colorindo a paisagem, as borboletas num bailado encantador enfeitavam o jardim, e no pomar, as mais variadas árvores eram cercadas por lindas asas multicores, um incansável vai e vem dos pequenos beija-flores.
Minha vida sempre girou em torno da natureza. Sentir o cheirinho da terra molhada, ver brotar cada grão semeado, pegar no cabo da enxada, tocar os bois, tarefas que para muitos pode parecer corriqueira, mas para mim, um motivo de orgulho que ainda hoje carrego no peito.
Éramos bastante humildes e não recordo-me de possuir bens materiais de grande valor. Valores mesmo, eu guardo na memória e no coração, foram os ensinamentos que meus pais deixaram, eles eram e serão para sempre meus heróis!
Lembro-me das manhãs. Eu acordava com o sol brilhando. Brilhava como ouro!
Batia de mansinho na janela do meu quarto, dizendo que já era hora de acordar, pois um novo dia acabara de começar. O cheirinho de café e do pãozinho com manteiga na chapa do fogão a lenha tiravam-me o sossego, fazendo-me levantar.
Não tenho do que reclamar de minha infância, ela foi perfeita, tive amigos e brincadeiras, estas bem diferentes do que se vê hoje em dia.
Naquele tempo, o dia girava fora das paredes de casa e quando a tardinha chegava era hora da reunião familiar. Não havia luz elétrica, não tínhamos televisão e a nossa diversão noturna, era sentar com um lampião ao redor do fogão e ouvir histórias. E que histórias! Algumas verdadeiras, outras nada mais eram do que lendas, fruto da imaginação dos mais velhos, porém suficiente para deixarem nossas noites arrepiantes.
Dessa forma, os medos também fizeram parte da minha infância. E acredito que meu maior medo fosse dos bugres- nome que os moradores deram aos índios da região. Todos diziam que eles roubavam as crianças brancas, assim criamos um imaginário, o que não os favorecia em nada.
Eles não eram muitos, mas estavam sempre pelas redondezas aterrorizando as mentes de meninos como eu. Eram ariscos e não se mostravam o que aumentava ainda mais a fantasia entorno deles. Quando estávamos na roça, mexiam nas árvores, imitavam animais e isso já era o suficiente para deixar-me suando frio, pois eu sabia que eles estavam lá, mesmo sem vê-los. E de repente, tudo voltava ao normal.
Porém, quando a noite caía sobre o céu e as estrelas pontilhavam o manto escuro iluminado pela luz da lua, novamente eles apareciam. Passavam uma varinha de taquara nas tábuas da casa, imitavam corujas, sapos e galos. Eu ficava assustadíssimo, o medo percorria meu corpo de uma forma tão dolorosa que me paralisava, então guardava o momento em que fossem embora e não via a hora do crepúsculo ser dilacerado pelo brilho do sol e ter a certeza de que eu ainda estava em minha casa.
Meu pai algumas vezes deixava na cerca aguardente e fumo e os bugres em troca deixavam carne de caça ou artesanato que faziam. Hoje sei que era uma forma de manter contato, mas naquele tempo não pensava assim, eles eram desconhecidos para mime por isso eu tinha medo e acreditava na fantasia daquelas histórias contadas ao redor do fogão a lenha.
Muito tempo já se passou desde que tudo isso aconteceu. Os bugres já não vivem por aqui e não me assustam mais. Sou homem feito, tenho a minha família e meu sonho realizado. O sonho de permanecer aqui, neste meu cantinho encantado.
BRIANE LUISE PIRES DE LIMA
8º ANO – 02