Suicídio: um tabu social debatido em seminário

 

  • Em Mafra, número de tentativas de suicídio registraram aumento considerável de 9 casos em 2010, para 44 casos até outubro de 2014.

 

“Há um silêncio em torno do suicídio porque existe um tabu social, mas é preciso pensar de maneira diferente, provocar a discussão, a organização, tecendo uma nova rede de prevenção para Mafra e região”. Esse e outros pensamentos, sempre voltados para a prevenção ao suicídio foram apresentados pelo palestrante Dr. Neury Jose Botega, pós doutor pela Universidade de Londres, professor da Unicamp e que atua como profissional liberal em consultório, durante 1º Seminário Municipal de Prevenção ao Suicídio promovido pela  Prefeitura de Mafra, através da Secretaria Municipal de Saúde.

 

O evento aconteceu na sexta-feira, 12, na Universidade do Contestado, com cerca de 250 pessoas participantes e teve por finalidade promover a capacitação multidisciplinar, propondo a reflexão e o aprendizado sobre o tema, bem como sanar dúvidas e superar tabus e mitos.

 

Na abertura do evento o Secretário de Administração, Tadeu David Geronasso deu as boas vinda a todos, em nome do Prefeito Roberto Scholze. Citando que 1 milhão de pessoas tiram a própria  vida anualmente, conforme dados do Conselho de Psicologia, explicou ser uma questão tanto social como de saúde pública e um problema que afeta a todos. Destacou a importância da capacitação das pessoas que estão diretamente envolvidas. “A melhor forma de tratar é com a prevenção, observando os sinais no dia a dia”, declarou.

 

Mafra

A Secretária de Saúde, Jaqueline de Fátima Previatti Veiga, salientou que Mafra tem registrado o aumento nos últimos 5 anos do número de casos de suicídio, configurando como de suma importância discutir sobre o assunto, “ao qual não estamos devidamente preparados para tratar, principalmente porque vai contra tudo o que trabalhamos, que é tentar salvar vidas ou melhorar a qualidade de vida das pessoas”.  Ela agradeceu o empenho de todos os envolvidos na realização do seminário e concluiu sua fala questionando “como podemos ajudar essas pessoas que não estão bem?”

 

A Enfermeira Luciana Mazon citou os números de tentativas de suicídio em Mafra, que registraram um aumento considerável de 9 casos em 2010, para 44 casos até outubro de 2014. Esses números, segundo ela podem ser ainda piores, uma vez que há muitas tentativas que, por motivos diversos, não são comunicados à Vigilância Epidemiológica. Ela citou ainda uma projeção da Organização Mundial de Saúde para 2030, quando o suicídio será a 12ª causa de morte no mundo. “Esse é mais um motivo para nos alertarmos e estarmos instrumentalizados para vencer mais essa barreira”.

 

Capacitação

Durante todo o dia profissionais de saúde da rede Municipal de Mafra, Itaiópolis e Rio Negro, além de representantes das Polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros, do Hospital São Vicente de Paulo, da Maternidade Dona Catarina Kuss,  professores universitários, acadêmicos, conselheiros tutelares, além de profissionais da educação e assistência social  pensaram, acolheram e planejaram estratégias de ações  para combater a finitude da vida, feita de maneira tão danosa como no suicídio.

 

Eles ouviram atentamente e interagiram às experiências mostradas por Dr Neury Botega, que já possui diversos livros publicados, abordando desde a prática da psiquiatria ao comportamento do suicida.  Ele dividiu o dia de trabalho em duas fases: teórica, onde fez um retrospecto da história do suicídio, desde a idade média até os dias atuais.  No período da tarde abordou a parte clínica e as atitudes dos profissionais de saúde.

 

Destacou a importância de se evitarem atitudes preconceituosas em relação à situação e tratar do assunto de forma despreocupada. “É muito importante levar a sério as tentativas, dedicar muita atenção a esse grupo e cuidar direito de quem já tentou suicídio”, afirmou.  Segundo ele, o momento da avaliação do paciente é quando se exige mais da competência e da responsabilidade social do profissional. Citou dados considerados preocupantes de que nos últimos 12 anos, enquanto o número total de suicídios decaiu no mundo, no Brasil eles aumentaram, caminhando contra a tendência mundial. “Estamos chegando a uma média de 30 mortes por dia no Brasil”, declarou.

Aos profissionais que atuam na área aconselhou: “cuidado quando a pessoa tem a ideação – já é um risco, mas quando a pessoa começa a planejar, ela está muito próxima da tentativa e do suicídio”, concluiu.

 

Serviço de acolhimento:

Em Mafra existem diversas formas de se buscar ajuda, orientação ou conselhos no caso de problemas relacionados ao suicídio, orientados pelos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde.  São eles: todas as Unidades de Saúde, ou seja, as Estratégias de Saúde da Família, devem realizar o primeiro acolhimento e se necessário encaminham para o CAPS Casa Azul-Centro de Atenção Psicossocial ou Policlínica Municipal –PAM (ambulatório de psiquiatria e serviço social). O pronto atendimento municipal pode ser acionado quando situações de emergências e urgências.