Mafra revive drama das enchentes

 

Pelo terceiro ano consecutivo o rio Negro e rio da Lança castigam os moradores ribeirinhos em Mafra. As fortes chuvas que caíram nos dias 5,6,7, 8 e 9, desabrigaram 46 famílias – cerca de 250 pessoas – alojadas nos Ginásios de Esportes Tutão e do CEIM Beija Flores em casas de familiares.

Ao contrário do que normalmente se verificou nas enchentes anteriores, o rio Negro continuou subindo cerca de 1 cm por hora, mesmo após três dias sem chuva, o que preocupou a Defesa Civil. Eles explicaram que a situação se deu pelo represamento provocado pela cheia do rio Iguaçu, onde o rio Negro desemboca.  

As primeiras famílias ribeirinhas atingidas começaram a acionar a Defesa Civil na madrugada de sexta-feira, 9 antecipando a chegada das águas. Outras porém, aguardavam com esperança de que o rio começasse a baixar, como o caso da família de Isidoro da Silva, de 68 anos, aposentado, que mora próximo ao rio da Lança, na Vila Argentina.  Na tarde do último domingo (11), a família estava toda reunida, em frente à casa, acompanhamento o movimento da água e esperando que o rio baixasse. A família de seu Isidoro mudou-se para Mafra em 2009, vindo de Caçador para ficar perto da filha, que hoje mora nos fundos. Quando comprou a casa em que vive não sabia que pegava enchente. "A primeira enchente que vivi foi no ano passado, 8 meses após estar instalado", explicou. Na ocasião abrigou-se com a família, na garagem da casa do ex-proprietário. Na manhã de segunda-feira (12), mesmo com as águas subindo lentamente, a família permanecia na casa,  em vigília.

Família atingida

Já a família de João Maria Simões, que trabalha com serviços gerais, não teve tempo de esperar. A casa onde mora há 3 anos com a esposa e três filhos, é uma das primeiras a ser atingida pelas águas do rio da Lança. Eles abrigaram-se na casa de uns vizinhos, em um local um pouco mais alto. "Dói muito, mas o que fazer? Sair daqui e ir para onde?", questionou João Maria, olhando para a água que teima em subir. Apesar disso ele não desanima: "temos que manter a calma e a esperança", afirma.

A Defesa Civil de Mafra orientava as famílias ribeirinhas, pedindo que  mantivessem a calma, mas que não esperassem a água chegar nas casas para providenciarem a mudança. A diretora de Defesa Civil, Solange Lansky explicou que a enchente do rio Negro deste ano, que até a manhã de segunda-feira chegou a 9.82 metros, foi superior a de 2009, que atingiu 9,27 metros. Em 2010 o rio Negro atingiu 10.50 metros.

Perdas

Todos os prejuízos causados pelas cheias do rio Negro e rio da Lança, na área urbana, bem como os estragos provocados nas estradas, pontes e bueiros e ruas da cidade e do interior, pelas fortes e constantes chuvas que caíram desde a última quarta-feira, estão sendo computados.

Para acionar a Defesa Civil basta ligar diretamente para o nº 193, do Corpo de Bombeiros, que é onde estão concentrados todos os caminhões para o resgate das famílias. Informações também podem ser obtidas pelo telefone 3643-7742.

Defesa Civil do Estado

Representante da Defesa Civil do Estado manteve contato direto com o Prefeito Jango Herbst em razão das enchentes. Ele atendeu e respondeu a todos os questionamentos feitos na ocasião. Disse lastimar o fato de o município ser seguidamente castigado, tanto pelas chuvas como pelas cheias dos rios que cortam o município. Declarou que tomou todas as medidas necessárias para socorrer as famílias flageladas como providenciará a reparação dos estragos nas estradas, pontes e bueiros, o mais breve possível. 

História

Em julho de 1983 a população de Mafra, e Rio Negro, cidade divisa do Paraná, observou perplexa o nível das águas do rio Negro, que corta os dois municípios, subir rapidamente, chegando a 14,57 metros, inundando bairros, destruindo edificações e deixando milhares de desabrigados.

Nove anos depois, em maio de 1992 o nível chegou a 14,42 metros e as águas novamente invadiram as cidades. Mafra ficou isolada de Rio Negro com a interdição das pontes Rodrigo Ajace e a Dr. Diniz Assis Henning (a ponte Metálica), além da cidade ser dividida pelo Rio da Lança, afluente do Rio Negro. Houve também a interdição da BR 116 no local onde a rodovia atravessa o Rio da Lança. Quatro bairros mais baixos foram atingidos. Cerca de oito mil desabrigados foram enviados a 24 abrigos oficiais, entre salões paroquiais, ginásios, clubes, barracões de empresas e até vagões de trens da antiga Rede Ferroviária Federal.